sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O que as Atléticas têm a ver com a democracia na USP?

A questão dos espaços públicos na universidade

Com as recentes mobilizações dos estudantes da Escola de Educação Física e Esportes da USP, ficou claro que a falta de democracia na universidade afeta a todas e todos nas mais diversas dimensões da vida cotidiana - do direito de voto a reitor às práticas esportivas. No caso  da EEFEUSP, um dos eixos mobilizadores foi a questão do direito aos espaços públicos. A Associação Atlética Acadêmica Guimarães Rosa é formada por estudantes e, antes de tudo, cidadãos, que fazem uso desses espaços e prezam para que esse uso se desenvolva de uma maneira responsável e consciente. É por esta razão que, embora não seja uma entidade política por natureza, a AAAGR vem se manifestar a respeito da democracia na USP e na utilização dos espaços públicos.

No último dia 12 de Outubro, sábado, um dos nossos atletas foi impedido de ingressar no Centro de Práticas Esportivas (CEPEUSP) por conta de um evento privado: o “Mundo Kids”. Segundo informações do evento, “A corrida é patrocinada pela marca Adidas, que terá uma loja com produtos no local, e conta com o apoio de Biotônico Fontoura e Merthiolate”. Para participar do evento, era necessário a compra de um Kit de 79 Reais, dando direito de participação a uma criança e dois acompanhantes. A entrada no CEPE nesse sábado era exclusivamente para portadores de convite. (http://diamundokids.com.br/2013/?cat=45).



É de conhecimento de todos que eventos como esse não são casos isolados: alugar espaços da USP para corridas corporativas ou patrocinadas por multinacionais do ramo esportivo - muitas vezes restringindo o acesso da própria comunidade USP - é uma prática recorrente da gestão da universidade. Nesse sentido, diversas outras questões aparentemente pontuais podem ser levantadas. Um exemplo é o fato da Raia Olímpica, um dos únicos espaços em São Paulo para a prática de remo, ceder espaço físico sob condições que desconhecemos para a sede náutica de três ricos clubes (Club Athletico Paulistano, Sport Club Corinthians Paulista e Esporte Clube Pinheiros); mas ao mesmo tempo cobrar R$ 200,00 por semestre para que adultos externos à comunidade USP possam frequentá-la. Todas essas pequenas pautas somam-se a uma questão muito maior.

Apoiamos iniciativas esportivas de qualquer natureza, sejam elas provenientes de meios públicos ou privados, e achamos que o CEPE, um espaço público que conta com uma ótima estrutura física esportiva, deva ser palco para atividades voltadas também para a sociedade; é possível que isso ocorra sem que o funcionamento habitual seja prejudicado e haja conciliação entre seu propósito principal (promoção do esporte entre a comunidade universitária) com outros projetos que incluam outros setores da sociedade. 

Porém o que temos visto é o frequente uso privado da estrutura esportiva universitária, com a cobrança de altas taxas de ingresso, e poucas atividades gratuitas e abertas, indo contra o caráter público de uma universidade financiada e mantida pelo dinheiro dos contribuintes provenientes de todas as camadas sociais. O cidadão que não estuda e nem trabalha na USP, paga a manutenção da Raia Olímpica, mas, a não ser que pague uma alta quantia, ou que seja sócio de um dos clubes supracitados, jamais poderá remar nela. A criança que quiser correr nas recém-reformadas pistas de alto padrão do CEPE, só poderá fazê-lo se pagar R$79,00. Não é de se espantar que isso aconteça em uma universidade que se diz pública, mas é cercada de muros, controlada por catracas, hermética e anti-democrática. 

Nunca é demais lembrar que a USP possui programas de apoio ao esporte olímpico, e algumas de suas estruturas esportivas foram construídas para eventos internacionais, como o Pan-Americano de São Paulo em 1963. Mas, ao mesmo tempo, sua política de inclusão através do esporte vai na contramão desse cenário, visto que o potencial de formação de novos atletas (sejam de alto nível ou não) e de acesso da população ao esporte é extremamente subaproveitado em nossa universidade.

A AAAGR defende a importância da prática esportiva no desenvolvimento pessoal e coletivo, sendo esse um dos motivos de sua existência. Justamente por isso, acredita que um complexo como o CEPEUSP, mantido por dinheiro público, não deve ser restrito apenas à comunidade USP e àqueles que podem pagar por eventos particulares, mas sim, servir a sociedade. Acreditamos ser de extrema importância que as entidades atléticas se questionem a respeito dessas pautas, que, indiscutivelmente, estão inseridas no debate sobre uma real democratização da Universidade de São Paulo. Nossa atuação fundamental se dá na área esportiva, mas isso não exclui o fato de que todos os tipos de entidades são afetadas pelos problemas que existem na nossa universidade, por isso é fundamental que o debate se dissemine também no âmbito das Atléticas.

Gestão Jegue Mate

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